Exéquias
Em meu velório só quero eu e o infeliz coveiro.
Eu, por estar morto. Ele por ter a obrigação de enterrar-me.
Não quero mais ninguém!
Choro e lágrimas? As guardem para outros que as mereça mais.
Faça o favor de não avisar a minha mãe.
Caso pergunte por mim, diga que fui longe. E não disse para onde.
Melhor poupá-la da horrenda dor de perder um filho.
Dor essa que conheço.
Não avise na igreja, no trabalho. Se meu chefe perguntar? Diga que estou de férias.
O cabeleireiro? Fale que virei hippe!
O homem do açougue? Vegetariano!
O padre? Fui para outra paróquia!
Não quero ouvir meus filhos chorarem a minha morte. Melhor ter um pai vagabundo. Sai de casa para morar na rua e talvez um dia volte arrependido pedindo perdão. Ou: foi comprar cigarro e não voltou! "Mas ele não fuma!" Aprendeu ontem.
E por que saiu de casa? Loucura! O homem que deixa sua bela esposa e filhos e vai à rua está cego da razão. Diga que me viram puxando um vira lata por aí...
Não precisa de flores. Caixão o mais simples. Se não tiver vaga no mausóleo, entre os indigente não irei reclamar.
Só não quero que ninguém saiba que morri. Porque não quero morrer.