Voragem

Não me faço de rogada no que vou escrever. Somente confissões.

Adianto-me para entrar no torvelinho, não tsunami, furação ou tornado. Torvelinho, vórtice incandescente que me toma .

Vivo entre duas frentes, um eu que desagua em dois mundos; o do processo criativo, e o da mulher terráquea deste agora.

Sou lançada no rebojo, tendo como base, um corpo físico difuso, enguiçado na mecânica, obra inacabada, cuja finalização está por vir, coisas do escrutínio secreto de Deus.

Quando na penumbra da mente chega a inspiração para a escrita. A angústia, aquela que assombra vez ou outra, eu e qualquer mortal deste mundo de inovação de coisas, não é pura, tem um misto dela com amor, que sublima a dor, na enxurrada dos eventos apocalípticos de fim de era, a qual me exponho docilmente.

Daquilo que estou fazendo, arrastando o corpo daqui e dali. Ralhando ou amando, azeda ou amarga.

Tenho um cantinho só meu na casa, não é isolado, nem muito frequentado, funciona como uma central de controle daquilo que ocorre no interior de onde moro.

Chego a ele, tocando a cadeira de rodas, coloco minhas pernas lânguidas sobre a cadeira, recosto o travesseiro sobre elas, e acomodo meu velho notebook.

Pego o fone de ouvido, ajeito-o sobre os ouvidos. A música é conectada.

Dali, meus dedos começam a saltitar, como as pernas de um coelhinho arisco. Somente os dois indicadores de cada mão, os outros, mantém-se endurecidos pela semi atrofia.

O texto chega. De pouquinho, o arranjo das frases é montado.

Cada dia um sentido. Cada palavra como uma nota de uma partitura musical.

Existe um organismo que move meu ser nestes momentos.

É a beleza da inteligência de Deus.

Unindo, amor, dor, subsumindo tudo num coquetel de naturezas em evolução, material e espiritual, independentemente das condições externas serem propícias ou não.

No instante em que estou escrevendo, um pianista toca Chopin. Estou terminando, vejo que é o fim do texto.

O mundo fora me chama.