TRANSE

O despertar dos músculos nas noites banhadas pelo desejo em combustão a fazer da mente pavio onde a fome pela carne torna-se quase insaciável. A pele em brasa sob o atrito do tato premente. O contato febril dos dedos ávidos a alcançar o veludo do templo íntimo. As palavras balbuciadas pelos lábios sedentos (quase culpam a si mesmas pelo fogo que elas acendem com a língua ágil e persistente). O cálido néctar a deslizar por entre as pernas trêmulas e extasiadas. Cada curva embebida pelo suor impregnado no perfume da atração. A sincronia das silhuetas a projetar o reflexo de apenas uma sombra. A matéria em transe, desconectada dos irascíveis punhos da finitude. Por fim, a conexão de dois corpos que se permitem entrelaçar, sentir, absorver o jorro da vida de acordo com a essência intrínseca a cada um. A aventura de duas mentes que se fundem em uma intensa viagem capaz de conduzir os sentidos à mais profunda experiência sensorial. A liberdade de ser lava ou rio e percorrer cada milimétrica sinuosidade dos caminhos. O desprendimento dos pudores, moralismos, preconceitos e tudo o que oculta a beleza. Os olhos lânguidos de quem é demasiado humano para refutar o prazer.