Tempestade de Ilusão

É uma noite fria de chuva. Da janela envelhecida perde-se meu olhar na imensidão dos caminhos incertos. As águas vão perdidas pelas ruas, arrastando sonhos e os perdendo em cada inevitável esquina, como almas atordoadas em um impiedoso labirinto. Enquanto incontáveis pingos riscam os céus de pouca luz, da moldura que me limita, aprisiono meu triste olhar à pouca luz de uma lua que luta incansavelmente contra as nuvens escuras que a sufocam. E nesta fria noite e silenciosa, tomado pelo pouco brilho deixado pela relutante lua, rasgo-me os olhos com sua inevitável lembrança, e com a alma já dormente, uma tempestade de lágrimas mordazes inunda o vazio da minha incapacidade de esquecê-la, me condenando à masmorra fria de um amor que vive presente na minha ausência. Agora o frio cortante me rasga o corpo febril e anuncia a minha morte momentânea por falta do teu covarde calor. Enquanto a tempestade segue seu fluxo, aqui dentro, fortes ventos sopram minh’alma, que já fraca, é empurrada a um espiral de desespero de ti amar além de mim. Agora, submerso pelas sofridas lágrimas que clamam por força, pois já não suportam mais sofrer minha dor, transbordo as muralhas do meu ser, e misturando-se à correnteza de águas desnorteadas, segue chorando, anjos que carregam meus conflitos mais internos e profundos. Como um barquinho de papel em busca de um sonho pra sonhar. E em cada esquina escura pela qual o pobre barquinho sem tripulação passa sem êxito, vai agonizando e morrendo a esperança do cessar de uma dor, provando que, mais cortante que o frio dos ventos que o leva, é a cortante certeza de seguir sozinho, num universo em cinza, nublado pela presença da tua ausência. Agora o nevoeiro que me cega a pouca luz, vai levando embora a imagem do encharcado barquinho, perdido entre sonhos alheios em busca do meu. E já com os turvos e desesperados olhos, fecho a velha janela da minha masmorra, a qual condenaste-me e entrego às correntezas escuras, como prova de amor, os fragmentos do meu todo, para que as águas espalhe-me em pequenas fagulhas, na última tentativa de ser encontrado por um sonho em busca de mais uma alma para sofrer, ou ser encontrado pelo triste e vazio barco que vaga dentro de mim.

GCarlos
Enviado por GCarlos em 26/02/2023
Reeditado em 01/06/2023
Código do texto: T7728254
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