Dia quente
O ventilador na parede fazendo um barulho discreto
Mais discreto que o calor na sala
No fone, toca Zeca Baleiro
e os pensamentos pulam a janela
Lá fora nós dois tomando sorvete
Andando de mãos dadas pelas ruas
Uma urgência poética de viver o não vivido
Uma urgência carnal de saciar todos os desejos contidos
Já falei sem pensar
Já pensei demais e nunca falei
Volto para a sala
Acalento a beleza do planejado e não cumprido
que fica no espectro do perfeito
já que não enfrenta as durezas da realidade
afinal, a vida não é tão doce quanto um sorvete
E de todas as amarguras
As maiores foram quando
sonhamos juntos, mas suamos sozinhos