CONTRAGOLPE (Sem Dor)

Hoje em mim retira-se o peso daquilo que não quero mais carregar. Não desejo exaltar virtudes que não possuo, e as que possuo, que nunca consigam falar por mim. O orgulho, vizinho da soberba, primo- irmão da arrogancia, jaz sempre de espada em punho; tendo então o sabre vazio de compaixão, fere mais ao próprio dono do que a seus inimigos. Ante tamanha perfídia, decidi combater de mãos vazias, sempre prontas para o golpe, mas muito mais para o afago que anula a ira impensada. Qual o tamanho do dissabor que tornou faces antes belas e imaculadas, agora macilentas pela vermelhidão do pranto esvaído em lamentos. Censuraram então os desejos, paralisaram os beijos, decretaram o fim, quando ainda não era. Usaram de maneira deslavada a auto-piedade, e assim acreditavam despertar amor, quando incautos logravam somente a pena que em nada enobrece. Meu olhar não mais se dirige aos desafetos, decidi que ao menos em meu mundo os lançaria no desfiladeiro vertical do esquecimento. Sem o brandir da espada, sem o grito vanglorioso da vitória. Caros leitores, entendam que dessa forma, em minha guerra não se pode haver vencedores ou vencidos, nem tampouco em minhas batalhas se derramará sangue algum. Tenho os olhos sedentos pelo amanhecer que aplacará em mim o rancor do contragolpe. Serei então invencível em minha fragilidade, repelindo inimigos e exércitos. Sem causa específica. Sem dor. Com você. Sem nãos.