Ensaio sobre um corvo na janela

E tão estúpido ver como ele continua voltando aqui todos os dias , será que corvos tem reflexo condicionado? Ou quer me dizer alguma coisa??

Honestamente me deixa desconfortável, já não importa pois sempre carrego essa mania de tecer hipóteses sobre coisas inúteis,

São poucas palavras e muitas horas perdidas, enquanto morrem as manhãs dia após dia, e como um vidro de morfina que vai acabando pouco a pouco, essa intensa palidez ,esse encolher de ombros quando poucas coisas importam,

Olho com essa perfeita razão que sempre me persegue, me embriago com a ilusão de um dia ter sido um sonhador, as repetições se repetem, as situações são como um dogma de tensão e acasos de pretensas e pálidas lembranças,

O corvo me olha insistente com seus olhos frios e dolorosos, e um instante brutal, compreende essa pureza pueril, sabe dessa chama que queria esquecer, golpeia violentamente o vidro tentando me tirar dessa imobilidade, desse marasmo suspenso e solitário,

O corvo e um excelente companheiro, não canta quando a maioria canta, apenas sente a dor fulgurante e calcula as horas penetrantes de silêncios , seus olhos são frios e tranquilos ,

Desta vez compreendi calado e convencido que esta melancolia seca e apenas uma certeza que atravessa meus dias, sou apenas uma fúria ondulante guardando quietude, alimentando essa doméstica miséria que me permite seguir respirando,

Por um segundo o corvo me entendeu...

Diego Tomasco
Enviado por Diego Tomasco em 08/05/2023
Reeditado em 26/06/2023
Código do texto: T7783338
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