Prenda de Natal

Para que conste, embora esteja vazio

Jamais queimarei fragmentos de recordações

Porque a lembrança é sagrada.

Poderei afugentar fugazes sublimações

Guardando na boca o amargo da brevidade.

Fitar o quadro de tons nostálgicos

Que irradiava a euforia da felicidade fictícia.

A solidão é uma patologia crónica

À qual só é possível atenuar a gravidade

Sem lhe debelar o pavor protocolar.

O Natal insinua-se no calendário

Mais um na sequência dos que foram

Maçadoras maquilhagens de confraternização

Após quebrada, como farrapos de arlequim velho

A ingenuidade infantil

De quando a alegria era a verdade

E a tristeza o impossível.

Afastou-se, sem consolidar reminiscências

A imagem bucólica

De um ontem sonhado de natais continuados

Hoje, se prenda houvesse que não fosse solicitada

Eu queria para mim

O sossego da harmonia partilhada.

De

Moisés Salgado