MÃE E FILHO NA INCUBADORA

Qual filho pródigo que retorna a casa

Assim vejo os olhos de um filho

Ao pegar com afinco as mãos

Calejadas e tortuosas de sua mãe amada

Unidas como se fossem cordões umbilicais

Num casulo de peles, vias e veias de amor

A espera de um milagre nas inúmeras vielas do criador...

E pensar que ele, seu filho, olhando pra ela sem filtros

Saiu de suas entranhas quando nem rosto havia

Na vaga tempestuosa da via láctea abstrata e furta cor

Até se tornar embrião no ventre de sua progenitora

E ela agora ali em idade avançada precisando

De cuidados médicos...Na UTI intubada pelo doutor!

Ela deu-lhe o ar nascituro para respirar por entre umbigos

Depois a láctea vida de seu leite materno o circundar

E ele ali a vendo por cordões umbilicais de sondas

Por sua traqueia desmantelada e serpenteada

Por molas espiraladas para o ar chegar até a via pulmonar...

Ela sedada num coma artificial e ele ali no estreito de Gibraltar

A vendo intubada debruçada sob o prepúcio da morte, inerte

E ele murcho em ar cipreste de mãos dadas a ela sob o leito

Pensando ah! Se eu pudesse entraria em suas entranhas

Dentro de seu alvéolo pulmonar saturado

Para que eu agora pudesse parir teu oxigênio

Que tanto me doastes e de vida me fizestes coroado...

Parece que sua vida sob o leito

Estava sem a oração, em amorfa liquidação....

Coma superficial induzido, olhos vidrados

Metade mãe metade robotizada

Seu olhar rútilo na beira do leito

Era para ele sua hora da agonia

Tantas estórias pinceladas

Por trás daqueles olhos fechados em monotonia!!!

Quiçá Deus no alto de sua infinita bondade

Dos seus olhos lágrimas retesadas

Lá do seu infinito altar pensava ele fortuitamente

Faça ela voltar sarada paro o seio familiar...

Dando-lhe a maior riqueza que ele nos deixou o AR!

Nossa vida é assim mesmo é nossa sina

Vamos priscando o desatinado percurso

Como um louco perdido nas esquinas

Somos células no caminho em curso

Umas se dissolvem logo ficando à deriva, plasmando

Outras continuam na circulação do destino...

Somos quais as ondas do mar

Em sua infinitude sob freáticos lençóis

O amor não cessa nunca

Rasteja na superfície

Muitas vezes na escuridão sem faróis

Tudo traz e tudo leva como choro da criança

Só ficam as peles movediças nas pálpebras da praia

Assim somos nós, pós das atalaias

Que nunca estaremos sós nesta contradança

Mais sempre pegando fôlego nas raias da esperança

Sempre unidos e nada no quebra mar da maré cheia

Nos separa, pelo contrário nos mistura, nos recheia

E mesmo assim ainda nos deixam sumidouras pegadas na areia...

Sinal claro do destino que ainda temos vida

Mesmo que o destino queira nos pisar

Sigamos as pistas da eternidade

Nossas digitais.... Enquanto houver

Um grão de areia se metamorfoseando

Nada está perdido...qual imã ligando os seres!

Caminhamos sem saber ao certo

Onde iremos chegar se não nos amalgamando

Tudo muda como diria Alexandre o Grande

Que a lua era a estrela da respiração

Que nenhum Animal morre a não ser que

A lua esteja minguando....

Ele o filho pródigo atrelado a mão de sua mãe

Era lua cheia no respirar de suas mãos de aquarela

Agora pareciam pássaros esvoaçantes

Da sua fé sensíveis a ela...

Ele num vão volitar, solta a mão dela instantemente e num milagre

Parece como a terra que suga a água do mar

Qual esponja....num suspiro profundo e propano

Qual pássaro preso no corpo antes moribundo

Se liberta das amarras e volta à tona de seus cílios

Aberta qual conchas que trazem

Suas pérolas das profundezas cianótica do oceano...

Ele solta a lágrima de sua melancólica maresia

Sua mãe de volta para o lar

Como num indulto divino

Numa troca de energia e de muita fé e luz....

Ela emerge antes ostracizada advinda do nada como purpurina

E ela olha pro lado espartilhada e vê seu filho peregrino

Que acabara de ressuscitar de dentro de sua mãe amada...

Mal ela sabendo que ele numa viagem intrauterina a trouxe de volta

Através de um outro menino chamado Jesus

O médico logo lhe dará alta (asas capengas)

Para que ela voando baixo num voo cego e rasante

Possa ainda que combalida da lida com a intensiva crisálida

Voltar pro ninho de sua casa aliviada

Remoçada qual um vinho frisante...

Milagres existem sim, basta acreditar no amor...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 24/05/2023
Reeditado em 25/05/2023
Código do texto: T7796697
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