Itaú Cultural na Quebrada

Um amigo meu me falou que foi no Itaú Cultural e disse que pirou com o lugar

Depois se perguntou porque ao invés de estar lá na Paulista não vem pro bairro aqui

Aí mano vou te mandar essa letra se liga nessa ideia:

Primeiro banco é empresa e empresa visa lucro, do contrário, não seria empresa e se fazem algo não é porque eles são bonzinhos e gostam de fazer caridade

Fazem isso pra receber benefício fiscal e ficar com a imagem de empresa socialmente responsável

Portanto, em uma sociedade capitalista como a nossa, nada é de graça pois tudo tem seu preço e praticamente todas as relações são feitas com base em interesses

Sei que essas palavras são pesadas mas aqui é a realidade descrita sem maquiagem, por isso não seja inocente cara, tampouco sonhador demai,s porque sonhar é bom mas se exagerar vira algo quixotesco

Segundo, vamos supor que eles vem para cá, veja só o que iria acontecer

Eles precisariam de um grande terreno para construir esse novo centro cultural, logo procurariam desvalorizar o preço de um para compra-lo a preço de banana

Regra do Capitalismo: - despesas = + receitas

Caso não consigam atingir seu objetivo, iriam utilizar a via da política pressionando políticos que eles mesmos financiam suas campanhas para desapropriar um terreno, uma casa, uns terrenos, várias casas, ou seja, o quanto para eles forem necessário. Você acharia isso justo?

Terceiro, eles não viriam sozinhos, juntos com eles toda uma infraestrutura de primeiro mundo com ruas asfaltadas, faróis concertados, base policial, mais linhas de ônibus para facilitar o acesso, barzinhos, lojas, restaurantes, construção de novos prédios, esgoto, água encanada, internet banda larga

Com o Itaú Cultural aqui a prefeitura iria fazer de tudo para o bairro se transformar no lugar mais agradável possível e "milagrosamente" o dinheiro para investimentos e melhorias na área iria aparecer

Verdade que a vida vai melhorar, porém com as melhorias o custo de vida iria subir inflacionando até o preço da comida, bebida, produtos de primeira necessidade sem contar o preço do aluguel e do condomínio empurrando nosso povo que não teria condições de arcar com as despesas para o extremo da cidade, lugar onde reina a precariedade

Será que vale a pena todo esse progresso?

Quarto, para "incentivar" a cultura iriam exigir mais e mais isenções de impostos e você sabe que menos impostos significa menos investimentos em educação, saúde, transporte e por aí vai

Percebe a reação em cadeia?

O que for de graça vão obrigar o governo a custear, o que for pago irão passar a conta para o povo e como na periferia a maioria não tem dinheiro suficiente para se dar ao luxo de investir em cultura, ficará mais uma vez de fora, ou seja a playboyzada iria tomar conta do espaço que era pra ser nosso, restando somente as sobras para gente, só para variar

Aí eu te pergunto: Isso é política de incentivo a cultura?

Quinto, com a chegada do Itaú Cultural espaços como o CCJ e Fábrica de Cultura conquistados com muita luta pela comunidade iriam se esvaziar, resultando em fechamento dos espaços, demissões de funcionários, aumentando a fila dos desempregados incluindo você

Já imaginou que treta seria se isso acontecesse?

Sexto, a cultura independente da periferia ficaria comprometida pelo menos ao meu ver pois imagine a cena:

O pessoal do Sarau Arteiragem declamando o conto Lógica do Sistema Financeiro no oferecimento de Itaú, feito pra você

Tem alguma coisa aí errada, você não acha?

E se dissermos dentro do próprio Itaú Cultural que Olavo Setúbal um dos fundadores ou fundador do banco Itaú (não sei ao certo) foi um dos apoiadores do golpe militar de 64 que instaurou uma ditadura de mais de 20 anos em nosso país, fato que até hoje sentimos os efeitos desse período na pele

Qual a possibilidade de sermos convidados novamente para se apresentar ali?

Melhor dizendo quais as possibilidades de sofrermos boicote e censura?

Portanto meu querido não me leve a mal só te mandei essa porque sou seu amigo mas vamos manter os pés no chão e procurar valorizar aquilo que é nosso sem deixar de lutar pelo que temos direito e pela melhoria de nossos espaços

Deixem que eles fazem a cara deles no lado de lá que nóis faz a nossa do lado de cá, com humildade, suor e perseverança.

(2015)