Tenho pensado muitas coisas

Tenho divagado sobre o céu matutino

e seu azul, sufocante e pálido.

Quase triste. Perdido entre prédios,

madeixas castanhas, loiras e ruivas.

O que me dizem todas essas cores?

O que escondem sob o ruído do meu coração?

Até mesmo a palidez tem queimado

as cores falsas da minha alegria inflamável.

O que dirá a minha paixão? Absolutamente nada.

Todo o meu caminhar tem sido silente.

A despeito da música nos fones de ouvido

e da cantoria dos mendigos em desvario

Tenho certeza que é silêncio que escuto

quando o painel da praça exibe o horário.

Bem sei que as cores são refúgios para o surdo

que alivia suas dores ao amar o mundo externo

enquanto mortifica qualquer compaixão

pela própria imagem, sórdida e moribunda.

Se eu me amasse como te amo, seria feliz.

Tuas lembranças transbordam em meu peito, apenas.

Dói-me cada centímetro da alma ver-te assim,

vertendo ansiedade e castigando a si mesma.

Dar-te-ia os prazeres que preferisse,

do chocolate às risadas involuntárias.

Apenas não maldiga a beleza do teu corpo,

perfeito enquanto égide do céu

escarlate, quente e sinuoso que tu és.

Contraste para minhas manhãs pálidas.

Mas se as brasas dos teus lábios desvanecem,

resta-me a frieza das noites comuns.

E quando chego em casa, numa dessas noites,

todas as palavras e emoções evaporam.

Sou mero procarionte da memória,

movendo-me nos destroços do dia que passou.

Por ter pensado muitas coisas, os destroços vencem

e sou soterrado por aquilo que não sou.

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 26/07/2023
Código do texto: T7846857
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