Sapiens, sapiens
um bicho
desde as
entranhas
tecido,
forjado
na selva
azul do
universo,
sonhou-se
gato, galo
cavalo,
mas viu-se
homem
ouviu do
azul aberto
do espaço
o estalo,
da culatra
estelar,
o escárnio
sideral de
sua pequenez
vez por outra
a infinitude
gargalha
em seus
desígnios
do barro
fez-se carne
obscura,
mormente humana
mão nebulosa,
coração caótico
em polvorosa
o fosso,
o muro
e o furo
moldaram
a amargura
escuro,
sempre mais,
tal escuridão
perdura
criatura
que busca
além do véu,
claridade
embaçada,
um réu-cúmplice
que lhe esclareça
a quase verdade
de coisa nenhuma
clara, mas não
clara como água
ou leve bruma
que se assuma
opaca,
ainda que ferida
à faca, não vence,
ou seja, apenas
empata a peleja
o buraco,
abismo
negro,
pisca
e faísca
em alegria
gasosa
flatula notas
de flores
e fezes
retém
no peito
o catarro
cósmico
do rancor
pelos
malfeitos
perdido
em tantos
pontos,
em tantos
grãos
oh, sapiens,
sapiens
homo-item
facultativo,
aglomerado
de veias
e falsas
impressões
de si
a boca
do teu corpo
não basta
tua crina
lustrosa
e racional
teu nome
confuso
de medo
e desejo
gira, sim
entre o
diz-que-diz
da imensidão,
da perfeição
imaginada
e jamais
tocada
é desejável
teu aceite,
tua chancela