QUE AMOR FOI ESSE?

Eu o amei. Incondicionalmente. Involuntariamente. Intensamente. Totalmente. Desgraçadamente!

E tudo começou de forma lenta, gradual. Sem imaginar que o amor fosse de alguma maneira, acontecer.

A ligação que tínhamos, a nossa amizade, foi identificada e sendo consolidada através do nosso gosto musical. E passamos tantos momentos agradáveis! Descobrimos e identificamos gostos... E o envolvimento, mesmo que involuntário acabou tomando conta de meus caminhos.

E me via a cada instante mais com o pensamento perdido em nossos momentos. Estávamos sempre juntos...

Um homem charmoso, educado, inteligentíssimo. Sua cultura chegava a me assustar! E então comece a pesquisar sobre os assuntos que ele mais gostava. Ler livros, autores que ele recomendava. Com isso fui descobrindo um novo mundo, adquirindo novos conhecimentos, me esforçando para não fazer feio perante ele.

E cada vez mais as horas passavam e nem notávamos. Era uma amizade tão linda! Até percebermos que havia algo além dessa amizade.

E nos deixamos levar... Romanticamente! E o fiz poesia. E me declarei em prosa e verso. Estava tão envolvida, que nem reparei que ele não as respondia, como se não as tivesse lido.

Mas o amor independia de um obrigado, de um “gostei”. Afinal continuávamos juntos, rindo, ficando cada vez mais próximos.

Até aquela noite em que senti a gula em seus olhos... E por um medo-pudor não consegui me entregar. Medo de ser rejeitada como mulher, medo de ser considerada de alguma forma promiscua. Pudor por ele ser um homem tão sábio, tão dono de si. Eu sei me conheço! Talvez eu o fosse de alguma forma chocar... Que tipo de fêmea ele espera encontrar em mim? Nunca havíamos tocado nesse assunto... Eu apenas fugi.

E nós fomos afastando um do outro, lentamente. Mas quando amamos, o coração sangra a falta do outro e em momentos assim nos buscávamos. Encontros eram marcados e desmarcados. Viagens eram planejadas e canceladas! Eu estava conhecendo uma outra face do homem por quem me apaixonei... A insegurança mais e mais tomava conta de mim. Mas a vontade de tê-lo, de estar com ele cada dia mais me consumia...

Até o fatídico dia em que ele me procurou... Seus olhos estavam diferentes. Tinham a frieza de um sádico. O sarcasmo estampado neles. Ele era todo exibicionismo... Queria somente uma transa, um satisfazer de necessidades. Não havia sentimento ou qualquer elo que não a carne.

E eu me senti suja, baixa, vil. E mais uma vez fugi, assustada.

Só que dessa vez fiz um balanço de todo esse relacionamento. E voltando no tempo, fazendo uma análise eu percebi que não amei somente um homem. Na verdade amei alguém ou com dupla personalidade ou um personagem, que variava seus papéis!

Às vezes era o homem romântico, que me encantava com as palavras, a música, cantando, tocando teclado, trocando conhecimento. Outras o bruto que não queria perder tempo, que queria a satisfação do momento.

E eu... Idiotamente apaixonada não notei essas mudanças a tempo! Só a percebi quando a ferida que ele causou me dilacerou a mente, o espírito, me tirou o eixo.

Agora tento juntar os cacos em que me fiz, tirar dessa experiência as coisas boas que me restaram e caminhar, seguir adiante...

Não há raiva, somente decepção. E uma pena enorme desse homem, que foi amado como se ama um ídolo, um deus e que preferiu a solidão no seu destino.

Santo André, 19.12.07 – 15h40m