Segundo conto poético: os olhos de ilusão

Se abriram, sem eu pedir ou mesmo perceber

E quando eu percebi, não via mais as minhas mãos ou aquilo que chamava assim,

E não via mais os espelhos da minha vaidade constante

Ou as dimensões terrestres e seus limites determinantes

Nem um céu de baunilha

Abri os olhos sem saber por que estavam fechados

E ouvi o silêncio de maneira muito mais clara de quando, bem, nem sei quando

Não sabia nada além do momento que abri aquilo que estava chamando de olhos

Mas nem os via

Apenas um clarão na minha frente

E de repente eu não sei mais o que via

Se o que estava fazendo era ver

O que era ação

Se eu era uma ação em particular

Se era Deus ou Paraíso

E por que eu estava usando essas palavras

E como eu sabia o que são palavras

Mas eu sabia que estava sentindo

Mais do que toda minha vida

E sim, eu senti um estalo quando pensei na palavra VIDA

Eu fui uma ou ainda sou?

Eu não sabia, mas então eu comecei a entender

Ou ao menos estabelecer uma linha de pensamento

Sim, pensamento

Eu também sabia o que era

E eu concluí depois de refletir

Que não era mais aquela ilusão

Que eu havia despertado

Talvez depois de ter morrido

Eu só percebia o que estava experimentando

Talvez fosse apenas a experiência em seu estado mais nítido

A consciência sem o espaço do tempo

Só a leveza da percepção imediata

E foi o que pensei

Que o sonho havia acabado

Que eu havia finalmente acordado

Suspenso em um mundo completamente desconhecido

Uma nuvem de sensação?

A metafísica que eu não acreditava?

Que os meus olhos eu não sentia

Nem mais os fechava

Porque não tinha

Queria sonhar com a imaginação

Mas não conseguia

Nem chorar ou reclamar

Eu, que era o rei do drama

Pensei rápido e sem perceber

Já estava falando, lembrando

Mas nada sentia de físico ou orgânico

O ímpeto de registrar como poesia

Sim, eu havia lembrado quem eu era

Ou sou?

O impulso da posse, do orgulho

Do devaneio

Mas estava vazio

Se eu era um quarto, inteiro

Não haviam paredes ou cama

Então, o que estava sem cor, escureceu

E eu acordei sentindo uma leve dor depois do breu

Uma porta se abriu, o médico apareceu

E mais uma lembrança: "eu brincando com o Ferrorama"

Ele disse:

"Você voltou!!"