Terceiro conto poético: depois de um milhão de anos

De muitas viagens interplanetárias

De muitas personalidades que eu fui e desapareceram completamente

De tanto gastá-las

De muitas orgias e outros tipos de aventuras desavergonhadas

De muitas vidas milenares

De ciclos que pareciam seguir infinitamente

De muitos infernos, purgatórios, paraísos

Lugares

Depois de muitos arrependimentos

Apagados por novos desejos envolventes e insanos

Eu resolvi que chegou a hora

Sem saber muito bem por quê

Se já tinha vivido tanto tempo

Se não faria diferença se vivesse mais um milhão de anos

Mas era o que pensava

Não o que sentia

E que tomou conta de mim

Quando a minha velha forma voltou

Quando o meu Eu original quebrou todas as cirurgias epigenéticas

E retornou o antiquado juízo de minha seriedade filosófica

Fruto de uma condição quase epiléptica desenvolvida logo nos meus primeiros anos de existência

Quando eu voltei a olhar pra vida de maneira mais melancólica

Como um acontecimento extraordinário

Mas também como uma experiência tão modesta

Foi quando eu concluí que não faria diferença

Se fosse mais um dia

Ou mais um milhão de adiamentos

Então, eu decidi adiar

Para começar tudo de novo

Com o mesmo cabelo grande

E com aquela ousadia

que apenas os mais tímidos têm