Quinto conto poético: de cabeça para baixo
Olhava para a parede,
para a consistência da gravidade,
dos meus pés puxados ao chão
Para a certeza da realidade física
Dos sentidos sem contradição
De repente,
Eu me vi escorregando enquanto tudo perdia o compasso,
o carro voando acima
para o céu embaixo
As nuvens como se estivessem na China
E eu me segurei em um telhado
O meu celular já tinha ido para o espaço
E eu só pensava em minha vida
No que já vivi
Nas alegrias de outrora
Desde as memórias mais tenras
Foi a minha veia melancólica que me restou
Até o momento em que não aguentei mais tanta força
E pela fraqueza, bati as asas que não tinha
E como um anjo caído, que eu sempre fui, cai no próprio esquecimento
Enquanto morria
Me despedindo da Terra
Abraçando as estrelas, escondidas pelo dia
Abraçando a imensidão que me sufocava
Até o oxigênio se esvair
E as alucinações começarem
Apenas alma, não mais o corpo frio
Que não sentia
Apenas o desejo
O sentimento mais puro
De amor por tudo
Pais, amigos, natureza...
Por tudo
Enquanto eu me esquecia de morrer
Assim como todos
Gritando em silêncio
Enquanto a escuridão nos consumia
Como velas pequenas em uma noite sem lua
Sem mais as verdades e os tormentos da ilusão turva