CORAÇÃO ARDIDO
Tal a massa de grãos no interior do silo
O magma escarlate a esculpir a ilha
O coração do poeta arde, flameja e sangra.
Ao zarpar da nau exposta em cais
Com velas em ebulição, dissemina o caos.
A aplasia bebe da multidão os aplausos
Diretos, anestésicos e narcóticos
O dia se ajeita entre os ossos.
Tem-se o castiçal, a aldrava e as teias - cheias!
Mas não há plasma a singrar nas veias
Subitamente, o silêncio ceifa a esperança.
Através da noite, surge o morcego obeso
Com a cara desfigurada, de gastas presas
A revelar tão recôndito adágio.
A nevralgia se estende, alastra-se, adentra o esquife
Sorriso prásino a enternecer a solitude
Os vermes esquipáticos nutrem-se da carne tenra.
Já não há mais vida!
Já se olvidara tudo sobre o nada...
Há o limo espesso, pegajoso e brincalhão
Um brinde ao rigor mortis!
A eternidade o aguarda.