Aleatórios II

Se há frases aleatórias em verso, escrevo então em prosa. De forma aleatória e contínua, que, de certo modo, é como levo essa infeliz e amarga vida.

Tento encontrar as palavras certas, mas como não sei o que quero dizer, busco nessas frases e sentenças aleatórias dizer tudo aquilo que pesa nessa alma e destrói esse cansado coração.

É preciso ter coragem para dizer e mais coragem ainda para admitir para si mesmo o que se quer dizer. E para todas essas coisas, é preciso uma honestidade profunda para arrancar de dentro da alma o dizer de um sentir.

E embora, em certos momentos e para certas pessoas, tudo se apresente incerto e sem explicação, e toda busca de sentido se torna vã, é necessário continuar. Continuar a pensar, projetar e especular. Continuar a acreditar, mesmo quando tudo manda desistir, pois, sem isso, o que resta?

A batalha do impossível precisa ser batalhada, de modo que não sei. Pode ser retirando o exercício de campo, pode ser oferecendo um tratado de paz, pode ser avançado ou pode ser só uma reunião com os generais para avaliar a situação antes de qualquer atitude.

Perco-me nessa aleatoridades, continuo mais perdida do que antes de escrever, numa espécie de efeito contrário: se escrever limpa a alma e traduz o sentir, nessa presente Odisséia, a escrita é um fardo e símbolo de uma guerra intensa dentro mim.

Estou numa rua sem beco, é contínua, estreito e sem local de parada. Pior que está em um beco sem saída, no qual basta olhar para atrás e resolver, é caminhar numa sua sem fim, sem onde parar, sem quem detenha, apenas caminhando para encontrar sabe quem, sabe o que, sabe onde.

Acho que sei o que busco, acho que sei onde devo ir e para quem. O problema se dá quando inverte-se as ações, tanto elas vindo de outros, quanto na inversão negativa: o que não se busca, com quem não está e muito menos onde. É essencial saber onde se firma e do que é feito, para saber qual decisão tomar.

Quero me tornar aquilo que eu nasci para ser. Descobri o Aquiles da minha existência. Talvez não seja algo concreto e objetivo advindo de capacidade intelectual ou produzidode pelas minhas mãos, mas sim, a capacidade de amar incondicionalmente.

Porque há quem tem o dom de amar, de se entregar por completo. De esquecer tudo que se passou. Porque a vida nada mais é que recomeços, as vezes do mesmo ponto. E quem esse dom sempre sofre.

Ainda não sei o que dizer. Ou sei não o consigo. Ou talvez eu não tenha nada a dizer, mesmo havendo tanto a falar. Falha de comunicação é resultado do que eu sou. Ninguém entende o que quero explicar, nem o que eu preciso dizer.

Eu só queria um gesto, divino ou humano, que me indicasse o que fazer. Um gesto mais certeiro do que uma flecha que encontrou o alvo, um sinal do céu como um raio que corta e se faz vivo e claro. Mas crer que isso acontecerá e mais difícil do que crer no impossível, eu teria que ter a compaixão de Deus e o amor de outros, e isso acontecerá no dia que o sol nascer o oeste.

Termino minhas minhas frase aleatórias dizendo nada, mas dizendo muito enfim. Dizendo coisas cujo significado não sei, e não consigo mensurar a profundidade do que foi dito, entretanto, sei que é muito importante.

Se milhares de vidas são mudadas pela aleatoriedade, que minha também tenha seu curso alterado, nem que seja com a consciência e coragem de dizer o que penso, o que sinto e o que sou. Desafiando crescer, onde mais nada cresce, já que o meu destino é transformar o impossível no trivial, colhendo oportunidades.

O que me faz sentido é aleatório. E isso sim, é algo aleatório.

Tamyrys Hadassa
Enviado por Tamyrys Hadassa em 08/10/2023
Reeditado em 14/12/2023
Código do texto: T7903649
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