MORTEM
Apreciaria morrer
Morrer hoje, sem hesitar
De um alpendre despencar
Auscutando a bomba falhar... Fibrilação.
Apreciaria ficar sem respirar
Por átimos e átimos, séculos afora
A ressequir todo o sangue escarlate
E a boca repuxada e silente... Amolgar-se.
Tencionaria putrefar ante o rigor mortis
Perante a múltipla falência das órbitas
Aos poucos, ceifar-me-iam as memórias
Ocultas e impassivas.
Haveria frondosas, talvez ciprestes
A me locar a sisudez e a eloquência
Dum sentimento longínquo.
Por-me-iam em esquife pardo
Com lápide sorrateira, abrandada
Ao som das liras a romper o pensamento...
Mas, qual?
Mortos não atinam!
Não amam...
Contudo, não sofrem.