400 days of winter

Eu gostava do verão porque o verão me lembrava você, seu calor e o seu cabelo queimado do sol. Porque me lembrava sua pele sempre muito bronzeada dos poucos minutos na praia, enquanto eu ficava horas, e seu cheirinho de sal misturado com seu perfume que eu tanto gostava.

E aí quando a gente terminou – seja naquele fim de inverno ou na nossa tentativa (já fadada) naquela primavera – eu comecei a tentar evitar tudo isso.

Tentei evitar Florianópolis e principalmente a praia de Joaquina. Esse lugar me causa arrepios até hoje.

Evitava tomar sol, e Curitiba de certa forma até compactuou com isso, e alem de tudo evitava todas as outras coisas que me lembravam você.

As musicas que nos marcaram, os filmes que vimos, as séries que abandonamos na metade (tal qual todos os sonhos e planos). Comecei a evitar pessoas, lugares, sentimentos.

E, mesmo assim, naquele dia 30 de dezembro, exatamento 1 ano depois do dia que me causa tantos arrepios, eu te encontrei. Em outro canto. Em outra praia. Em outro momento.

Por esse e outros tantos dias que só aconteceram na minha cabeça, no relance que achei que era, no canto de olho enganoso, no perfume que passou na rua. Desisti de sentir.

E foi basicamente nessa época que troquei o verão pelo outono, troquei o bronzeador pelo casaco e troquei minha paixão pelas coisas pela maior cautela que o pisar em ovos.

Não sou mais aquela apaixonada e entusiasta por tudo.

Bem que eu ouvi dizer que o amor é como um adesivo que você tira e cola em momentos diferentes de vida. Ele irá colar depois, mas nunca como da primeira vez.

Você foi meu primeiro amor.

Não o de adolescente avassalador irracional.

Mas o primeiro saudável, construtivo, recíproco.

Bom, esse texto, mais do que todos os outros, é um relato pessoal. Espero que um dia você leia e saiba a resposta da pergunta que você já me fez algumas vezes (mas que talvez nem seja mais uma questão pra ti) "será que ela ainda pensa em mim?"

E aqui, nesse domingo após chover o dia todo nessa cidade, eu confirmo que: todos os dias.

Que mesmo estando realmente ocupada... Ocupada tentando tirar você de mim. Tentando limpar as marcas que você, o sol, o verão e o mar tinham deixado.

E hoje, após 400 dias de inverno, eu sinto cada vez mais que consegui.

Consegui enfrentar a primavera, o florecimento, sem você.

28/09/2022