Fogueira de São João

Tive febre como antes nunca. Achei que fosse morrer. Achei mesmo. Era uma quentura de não parar, de um sol que não esfria. E não era calor do mundo, nem de meu corpo, era um de dentro que eu não sei dizer, oculto. Os sentimentos são poderosos mesmo, tiram a gente de tempo. O amor tem dessas.

E aí, isso foi ontem, né. Ontem eu mal dormi. Achei engraçado hoje. Tava esperando o ônibus na parada e uma mulher conversava. Ela, outra, e eu ouvindo.

Ela dizendo que São João sempre dormia na noite da festa. Que tudo se organizava e se fazia, as comidas, as arrumações e coisa e tal. E a sua mãe Santa Isabel, acalentava e deixa dormir o menino, porque do contrário, se São João Batista acordasse e descesse a brincar na terra, se acabaria em fogo o mundo inteirinho com a sua meninice.

Aquilo me arrepiou o oco da espinha.

"Chegou a hora da fogueira!

É noite de São João...

O céu fica todo iluminado

Fica o céu todo estrelado

Pintadinho de balão...

Pensando na cabocla a noite inteira

Também fica uma fogueira

Dentro do meu coração..."

Enfim, essas coisas vão ainda sem explicação, mas deve ser isso, deve ter uma fogueira aqui dentro só esperando, só esperando a noite de São João e, junto dela, um menino ansioso por brincar.