Hoje mas só hoje

Hoje inclino-me ao fulgor dos dias luminosos

caiados de sol, cheios de noite e solidão,

inclino-me às dores, aos olhares saudosos

da minha triste juventude etérea sem razão!

Hoje! Mas só Hoje! ...

Hoje inclino-me às crianças que passeiam pela rua

cheias de sonhos e vontades, como eu já tive,

e penso na amargura que vão sentir, tão crua,

ao verem, crescendo, que sem a morte ninguém vive!

Hoje! Mas só Hoje! ...

Hoje inclino-me às guerras porque delas se faz paz,

uma paz armada, bem sei, porém uma semente,

inclino-me à fome e à tristeza de que a traz,

à dor e ao silêncio de quem a vê, de quem a sente!

Hoje! Mas só Hoje! ...

Hoje e só hoje me inclino ao coração dos homens,

por vezes, tão negros, cheios de maldade e podridão,

cheios de angustia e amargura, cheios de nuvens

que lhes encobrem a Voz de Deus e lhes tiram a razão!

Hoje! Mas só Hoje! ...