FINGIMOS BEM

 

 

Nós fingimos bem:

ninguém gosta de ninguém,

mas nos amamos um bocado;

ninguém tá nem aí,

mas estamos antenados,

assim conectados

na mentira e na verdade.

E, no entanto, somos incapazes

de mandar um ao outro às favas

ou, claramente, à merda.
Talvez porque sabemos

que o buraco é mais embaixo,

que os romances não dão em nada

ou eu já passei da idade.

Somos hiper, super realistas,

só sonhamos coisas simples:

uma manhã de primavera na tela

sem vinho

e sem lençóis molhados.

    Mas rimos,

rimos um bocado.

E fica assim.. vamos ver se você pesca.

 

 

Rimos sim...

Risos à beça...

E as nossas querelas,

Apenas conversa!

Aquém

Da verdade

Aquela

Que ninguém tá nem aí

E a gente não gasta tempo em discutir

Está a nossa simples fantasia

Sem a poesia

Dos romances skakespeareanos...

E a gente ria...

Ria, Ria, ria...

Fazendo uma baita folia...

E não nos mandamos infernos

Porque vemos de fato a vida

Como a grande brincadeira

Grande esteira se faria

Insistir numa romaria

Se o milagre fosse caro!

Puros e claros

Beijamos o sol de cada dia

E colhemos do pomar da história frutas raras...

Coisas que só as almas simples, em simplórias

Saem ver, por entre as ramagens...

Houvesse margem

E aí sim, sem o contento das miragens

A gente claudicaria, insanidade

E com certeza, todo mundo saberia!

Mas fingimos, bem!

 

Sim fingimos – é preciso

Ser sincero por demais

Faz a vida um tanto dura

Quem procura a mentira – vive só de ilusão

Então vamos assim às escuras

Fingindo tão bem que nem

Nós mesmos sabemos quem é quem...

Complicar, se a vida ensina

Pelo sol e o ribeirão

Os insetos, e os pássaros

E todas aquelas estações

Pra que talher de peixe?

Caviar e escargot?

Champagne francesa...

Risoto dourado

Se logo, dejetos será depois?

Vamos rir rirmos à beça

Das besteiras dessa vida

Vamos deixá-la mais leve

Cristalina – colorida

Vamos curtir pelas tardes

O passeio pela grama

As visitas dos amigos

E tudo mais que ensina vida...

Mesmo que a dor nos trespasse

Mesmo que a chuva nos molhe

O vendaval nos derrube

Rirmos pois fingimos bem!...

TUSTA
ANA MARIA GAZZANEO
GONÇALVES REIS

 

Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 27/12/2007
Reeditado em 27/12/2007
Código do texto: T793969
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