Espero que um dia a vida seja feito entrega de correio e, que possa me recusar, a aceitar de bom grado, aquilo que não convém.

 

Nada mal deixar pra lá o boleto das cobranças sociais eméritas, para atender às expectativas dos que, por algum motivo, deixaram de olhar para si, a ponto de lhes sobrarem tempo para apontamento aos outros: quem se ocupa do que é, não se aventura a julgar os que vão...

 

Que a correspondência chegue a tempo de provar com atitudes, que o amor é orquestra sinfônica com apresentações restritas, por vezes única, que permita a sensação de completude: o tempo entre o nascer e morrer é curto e indefinido...

 

Haja invólucro para guardar sensações que foram sobrepostas por emoções, seja na escolha do presente, no tempo de espera, na alegria do endereçamento.

 

- Olha o correio! Grita o carteiro.

 

E lá de dentro, onde ninguém possa entrar sem violar a fechadura, uma voz adormecida:

 

- Espere um pouco, seu carteiro, não sei meu RG de cor, meu CPF é traiçoeiro pois me inverto num novelo como um nó.

 

Espere um pouco, seu carteiro, quando o correio chega o coração é de dar dó.

 

Espere um pouco, seu carteiro, apenas porque tenho medo de ser um selo pra ser só...

 

Espere um pouco, seu carteiro, porque no código de rastreio, os números viraram letreiro e o destinatário, ainda mais que o remetente, ficou ausente...

 

- Já não moro mais em mim desde que se foi!

 

 

 

 

 

 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 27/11/2023
Reeditado em 27/11/2023
Código do texto: T7941856
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