A totalidade dos fatos
As ruas que eu caminho são tão solitárias, as pedras que atravessam o meu caminho são montanhas. As chagas com que escuto o "largo e pianissimo" sempre no seu segundo momento e em lágrimas sinto, são as mesmas com que escrevo estes versos; o meu mundo é desmoronar a si mesmo e permanecer no nada, com o nada e em si para todo o sempre. As minhas vestes não são as galantes e em "allegro pastorale", mas são aquém de Horácio, aquém disto tudo... e a parte de todo discurso em representação da coisa, a soma dos fatos e o estado de coisas. Eu sinto que a minha vida é um desperdício, mas sequer olvidar de minha proficiência prolífica posso, pois a pausa é menos do que uma semibreve e a vida é um sopro. Eu prevejo um futuro que talvez niguém veja, posso ser com certeza tido como um louco, mas pergunto-te, um louco saberia escrever? E se o escreve, o que escreveria? Um louco por sinal sente? Um louco por sinal ver? Um louco por a caso sonha, faz e recebe aplausos dos melhores sempre? Eu, assim como Nietzsche, tenho a honra de ter ao meu lado os melhores, os que mais possuem cultura e talento neste país. Talvez eu saiba quem sou, mas não darei o orgulho e a honra daqueles que confiam no meu nome a uma aposta barata contra as Moiras; uma falsa profecia da plebe. [...] A verdade é que o meu destino já foi guardado desde a tenra infância e os meus nomes foram escolhidos por aqueles que mais duvidaram, os fatos e as sua regras de formações que em conjunções se relacionam por regras "arbitrárias", no sentido que os fatos, e não as coisas em si, são irrastreáveis ante a face do abismo. E, assim, o absurdo constitui a lógica regente de toda história e narrativa. Eu escrevo estes versos por ter o que escrever, senão, estaria a vagabundear com as raparigas, que do contrário, não gostariam de um homem tão vulgar. Digo, porquanto, as minhas vestes são as mesmas, mas a minha alma é outra por necessidade. O meu pragmatismo é o de Peirce, com a diferença de que não concebo a continuidade de nada para além de um encéfalo cedento por significados. E a minha voz confirma toda a historicidade dos mitos: as narrativas sobre os fatos, que julga-se apreender as coisas e saber pela percepção que a representação possui o valor veritativo verdade, pois do mundo em si, a nossa representação conceitual e física só pode ser verdadeira ou falsa.
A nossa subjetividade surge das lacunas de interpretação. O nosso discurso é vazio em si e precisa de um referente consonante para justificar a si mesmo. As minhas palavras não são apenas palavras, pois julgo saber, mesmo que não tenha certeza. A nossa adequação entre a conceituação e a coisa em si é uma adequação "formalista", assim, julga a si mesma detentora da melhor forma, método e estrutura. Mas o que resta a nós homens é apenas um destino cruel defronte a certeza do incognoscível e da impossibilidade linguística de enunciar algo livre da semântica, dado os jogos de linguagem. Logo, a minha voz continua sendo e o mundo nada.
(...) "Depois que o vencedor começou a estender os campos,
um muro mais amplo a abarcar as cidades e a impunemente
aplacar-se o Gênio, em dias de festa, com o vinho diurno,
acrescentou-se uma licença maior não só aos ritmos, mas também às melodias
Que gosto teria, de fato, o camponês indouto e livre dos trabalhos
misturado ao citadino, o rude ao distinto?
Assim o lautista adicionou movimento e também exuberância à antiga arte e,
errante, arrastou sua veste pelos palcos.
Assim, também, cresceram os tons às cordas severas,
uma eloquência ousada produziu um discurso insólito, e a sentença conhecedora das coisas úteis e profética do futuro
não destoou dos oráculos de Delfos." (...)
Que a morte nos entregue a honra
De sermos tão somente animais
A pairar a face do abismo, a dançar
As lindas canções de animais
Que caminham a caçar
A tão querida e esperada honra.
~ Summa rerum silentium est.