A VOCÊ, ARROGÂNCIA, EU LHE DESEJO...

A cada esquina eu tenho lhe encontrado e procuro desviar meu caminho.

Ser de tantas faces, camaleão nas trajetórias de glória fictícia, a você, arrogância, eu só lhe desejo consciência.

Que, por um milagre dessa era Natalina, você possa olhar ao seu derredor, bem abaixo da sua grandeza cada vez menor , a enxergar o ínfimo do tomo que sua existência agrega ao todo...sempre abaixo do seu nariz.

Eu não lhe desejo mal, mundo arrogante! Eu apenas lhe desejo a Sagrada clemência do tempo.

Dispenso todos os seus títulos de vaidade, seus cegos holofotes, sua insensibilidade, sua dureza, sua eloquência inercial.

Eu apenas desejo que você possa arrefecer sua vaidade e tomar um cafezinho à mesa dos que fazem parte do mundo real.

Que você, arrogância, se desconecte da irrealidade que ergueu para si, do seu palácio de futilidades; e que , um dia, possa você, de tanta arrogância que é, sentir o cansaço de si mesma, pelo tempo corrido e decorrido, o que nos exige toda a reformatação dos sentidos...

Eu não lhe desejo mal, acredite. Meu verso em prosa é só ato de condolência.

Eu lhe desejo que o socorro lhe venha de cima...

Portanto, eu apenas espero que sua voz embargue nas tantas incertezas da existência, que seus passos se desestabilizem nas pedras das construções equivocadas, que seus olhos se ofusquem ao que não importa enxergar, que seus atos tremulem nos movimentos imprecisos das desconstruções, que sua vaidade decaia com a energia vital que se esgota, que seu coração acelere ao se perceber nada como todo o nada do tudo do mesmo todo.

E que, então, possa uma lágrima de entendimento escorrer pela sua face obtusa.

E lhe desejo que , mesmo assim, ainda lhe sobrem forças para construir e comtemplar os feitos, os desfeitos e os malfeitos da sua própria história.

Saiba arrogância, nada do que lhe vier do esforço das mãos alheias lhe trará real valor vital agregado.

Acorde arrogância, olhe para baixo!

Nada, do tudo bem acima de você, lhe faz reverências!

Aqui, eu lhe faço um pequeno convite paradoxal à sua essência:

Olhe para cima arrogância. Mas acima de si mesma! Consegue? Vê alguma coisa?

É impossível ver o principal ao ser que nunca tem olhos...que não sejam voltados para si.

Eu lhe desejo que, uma vez ainda que bem pequenina, possa você clamar pela misericórdia do tempo, o ser mais vaidoso e zombeteiro de que se têm notícias, sempre de mãos fortes, postadas bem acima de tudo e de todos, inclusive, bem mais soberbo e imponente que você.

Eu lhe desejo apenas a justiça das horas passantes...nunca falível como o injusto ato do Homem, as que voam apenas em acomodações executivas.

Abaixo delas, arrogância, todos voamos em classe econômica...

Esse tempo das horas que voa e que tudo varre: o chão, os alicerces, as paredes, os tetos, os palácios, os casebres e todas as ilusões dos grandes feitos dos pequenos grandes seres.

Acalme a tua perdição, arrogância...tome a noção patética de si.

Eu lhe desejo a via final comum de todos os passageiros da nave: o resfôlego do voo pelos ares da senescência.

Sabe arrogância, nem sempre há tempo suficiente para as tamanhas convalescenças do espírito.

Que lhe haja o milagre à sua trajetória... que você possa alcançar o todo principal "em tempo de".

Em tempo de seguir consciente do tamanho, sempre cada vez maior, da sua ínfima e sempre desagregadora pequenez; e...quem sabe, conseguir retornar e se apartar de si.

Eis o bem que eu lhe desejo.