Fracassados, vomitados, escarrados e endinheirados!

Às vezes uma esperança em mim quer se expressar.

Mas sou má com ela, deixo a presa e que ninguém a perceba.

Colegas, família, terapeutas e psiquiatras querem mostrar que a vida não é tão ruim assim.

Lamento, não posso concordar, criar expectativas podem esperançar.

A esperança não é para amadores, ela tem a força de destruir o que resta de mim.

Posso parecer opaco, pessimista e desgostoso, talvez seja sim.

Mas prefiro negar um fio da possibilidade do poder de sonhar.

Fincado no pragmatismo, no cotidiano, nego o momento de idealizar.

No escuro da noite, quando todos sonham, incrédulo, reforço o triste o futuro que me espera.

Acendo cigarro e baforo, toda fumaça defumadora diz há chances de ser feliz.

E no nebuloso fumacê, algo diz que posso tentar e um talento devo ter, o amar e ser amado é o necessário e uma vida ter.

No segundo cigarro, acompanhado de um uísque, inalo e exalo a fumaça pelo nariz.

O real volta a mim, volto a caçar palavras e que o talento pouco importa.

Terei que dialogar com seres tão vazios quanto eu. E que poder essas pessoas acham que tem? Serão escarrados quando desnecessários pelos poucos, endinheirados, despejados da empatia e sequestrados pelo medo, não de perder o dinheiro, mas que os escarrados terem tantas notas quanto eles e falar de igual para igual.

Turvo novamente pela névoa do cilíndrico continuando a fumaçar, desta vez tomo dois goles do destilado e digo foda-se para os escarrados e aos endinheirados. Tenho o respeito pelo garçom que enche meu copo. E de tão cansado não puxa papo, apenas se preocupa na exatidão da dose que abastece meu copo, para o próximo vomitado justificar alguns centavos economizados ao rico, que o explora, e afagará sua cabeça como um cão vita-lata e repetindo: bom garoto, bom garoto.

Apesar da tecnologia, ainda tenho pequenos cadernos anotando palavras, rimando sintaxes. E velho, satisfazendo aqueles que odeiam a minha postura e curtem o grisalho no fracasso do meu cotidiano e ainda sortido pela fumaça e dos tragos e cagando para os escarrados e vomitados. Eu, ainda, posso enjoar os caralhos dos ricos. Fodam-se canalhas.