Te amo

Preencho os espaços humildes do silêncio pagando caro. Me encharco de pensamentos ao longo do dia. Depois fico anestesiado. Nada faz diferença. Não tanta, mas eu te amo. Eu te amo. As vezes só quero gastar esse amor arrastando ele no asfalto, correndo até tarde da noite. Cruzaria a cidade. Iria descalço. Ganhar satisfação da coisa obscura por debaixo do chão, por detrás do meu olho. É o asfalto. É a passagem. Lembro de afirmar, estou amando, como quem primeiro paga o imposto das palavras e depois lembra que produz com as mãos e ainda paga imposto. Estou amando como quem ama. Saia da minha frente. Esse amor é meu. Esses passos são meus. Esse silêncio vazio são meus amores e meus passos. O vazio é lindo com o amor aqui. Me encharco de sentimentos. Depois planto macio na terra que sobrou uma muda observação dos seus passos. Cavando espaço. Acabou o imposto. Até esbarro com produções. Arrasto o vazio no asfalto. Passagem. Amor. Noite adentro, madrugada afora e dia saindo pela goela, o tempo é uma entidade normal. É o deus das contradições. Amor. Quero viver, eu sei. Ontem eu queria morrer. Anestesiado. É verdade. É mesmo. Te amo quase mansinho. Por isso ainda. Os jeitos aparecem. Te amo no espelho também. Sabia? Sozinho. Na parada do ônibus. Lembro de continuar andando. No asfalto na cidade, descalço. Ando os meus passos. Encharco o meu dia. Quero viver esse dia até o fim dessa manhã, depois quero passar a tarde e quero viver a noite. Você chegou na porta da minha casa. Planta mudas macias nas minhas mãos nos meus olhos e leio tudo. Leio até no escuro. Leio tudo com calma. Teus olhos. Estou amando muito, como se amasse mesmo. Estou amando mesmo, olha como são as coisas do mundo. É lindo. É linda. Com os olhos fechados. Fecha seus olhos meu bem. Me escuta um pouco. Quero te falar bem muito. Baixinho. No teu ouvido. Fazendo carinho na sua nuca. É rápido. Você é muito linda. Te amo. É verdade. Te amo. Mesmo. Desculpa. No teu ouvido. Te amo. Viu? Obrigado. Eu não ia conseguir deixar essa palavra muda. Te amo... te amo...

Nia Ferreira
Enviado por Nia Ferreira em 22/01/2024
Reeditado em 22/01/2024
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