LUZ DA VIDA

 

Mãos erguidas clamaram pelo teu desejo. Ferozes gritos exigiram o teu silêncio. E tu, frágil reflexo de uma esperança, tentaste aguentar de pé os golpes com que te feriram e manter a tua voz aberta ao mundo. Mas não tinhas a força necessária. Sangravas o sangue que te exigiam, mas, enquanto esperavas que parasse já o silêncio se instalava em ti. Também tu conhecias o fracasso. Sabias não haver mais por que lutar. Voltaste, enfim, as costas a esse mundo onde o silêncio não bastava para sobreviver. Partiste ciente de que abandonavas a melhor parte de ti, mas incapaz de continuar de pé ante feridas mortais. Longe era o teu lugar, longe de tudo… Só na renúncia poderias prosseguir. Da torre do sonho afastaste os teus passos para receber o beijo do fracasso. E por fim, para tudo o que te definia. Hoje, és a vitória que sopra nos ventos do adeus, a despedida que nunca dissemos. A história jaz por terra e nós com ela. Fica-nos só o silêncio que aceitamos como mortalha para os desígnios do que fomos. O vazio. O abismo que em nós dilata pensamentos e murmura histórias que nunca poderemos partilhar. Hoje é isto que somos à luz da vida. E a vida… Já a esperança se fez e hoje o amor mora dentro de nós.