Perguntas quem sou?
Respondo: procuro-me
Ao abrir os olhos,
Vejo-me dissolver,
E o tempo suga ferozmente
Cada parte deste espaço
Que desaparecerá.
Amontoaste futilidades
Que de nada servirão.
O tempo corrói e consome
Qualquer superficialidade
Que tentas agarrar com as mãos.
Deus assim o fez
Desde o princípio.
Chamaste-me
Para a Casa de Espinhos.
Atendi ao meu Senhor,
Andei pausadamente
Nesta noite fria
E intensa escuridão.
Que não se engane:
O tesouro é a solidão,
O vento gelado
Acomodou-se na pele
Como um manto de seda,
E as lágrimas
Lavaram a terra e as pedras,
Limpando o entulho acumulado
Dentro da outra casa secreta.
Quisera eu
Aproveitar da escuridão
Que me permitiste viver,
Moldar-me a cada instante
Na bendita polidez da alma.
Pudesse eu
Suportar as pedras
Entaladas na garganta,
Até que se dissolvessem
No momento oportuno.
Faria do silêncio
Minha fortificação,
E da espera a virtude.
Se sou,
Terei de ser
Na incompletude,
Ser o que é,
Viver a essência
Que me faz estar
Sendo aqui.