Transcendente

Contemplo o vazio. Quero versos onde habita apenas o silêncio dessa saudade. Consola-me saber que não somos mais os mesmos. Se hoje escrevo é tão somente pela arte de fazer-me o dom divino como chuva em tardes de outono. Não pense que ainda estou presa a você. Meu coração segue liberto. Sigo em frente cada dia mais apta a receber novos amores. São tantas e tão belas as formas de amar. É tão mágica essa compreensão. Isso mesmo, guarde sua vaidade viril em um potinho sagrado! Nada mais é por você. Essas escolhas advém dos tempos sombrios de dores intensas. Um acidente de percurso no longo caminho de volta a mim, você, um presente lindo. Nada mais. Hoje tudo parece tão distante, me faço personagem de uma história que nem parece minha. O tempo tem dessas... Esse poder de transmutar. De transcender. Lembra, você sempre dizia que eu deveria escrever um romance? Eu sigo fazendo poesia, hoje em textos mais longos, parecem prosa, mas tem o peso dos versos esquecidos. Nossa história é só a matéria prima de onde fabrico as sentenças curtas na dança de palavras que tanto amo bailar. E o nosso amor feito poeira cósmica se tornou mais belo que se fosse real ainda hoje. Deixe pulsar a saudade. É dela que brotam as flores a enfeitar os meus dias solitários. Alguns dias sempre são mais difíceis. No fundo, eu sei que ainda creio na ilusão. Sei que posso revisitar o mundo que inventei pra você, pra nós. Sempre soube que essa história era criação minha. E nessa fronteiriça incerteza se ficção ou realidade, sigo me reconstruindo. Um pouco mais inteira a cada dia. Um dia de cada vez. Sem pressa, me reconheço muito mais forte sem você. Um pouco a cada dia. Já não tenho o mesmo brilho do fogo da paixão. Carrego no olhar a coragem de quem não tem medo de entregar-se porque sabe que mergulhar ainda é melhor que conter os desejos. Trago em mim a intensidade sua. Grande parte minha foi embora no seu adeus. Por outro lado, como um presente, eu recebi e guardo comigo, o melhor de você!

*Si*