Voz

"Quis morar no meu vazio - planeta distante da terra, fundo e repleto de mim, com a minha pessoalidade, meu silêncio, meu entardecer no cansaço dos pássaros.

- um lugar frio e acalentador, onde a minha existência tornou-se tudo o que existe e pela primeira vez nada me impediu de ser. "

O cordão umbilical entre eu e a terra foi cortado, então desconfinei-me das circunstâncias e flutuei nas possibilidades em meio a um choro frio de separação e liberdade.

Desde então não tenho irmandade com as coisas e a minha genealogia jaz extinta entre várias outras.

Para decifrarem os primórdios da minha origem teriam de escavar arquipélagos perdidos nos oceanos.

Teriam de ouvir o silêncio por longos dias até que a alma das coisas começasse a falar.

E ainda sim, sendo a sombra da vida vista a olho nu, não poderia ser enxergada, pois reflito o que os sentidos não alcançam.

Ah, o ponto azul fora de mim é grande o suficiente, mas prefiro quando nele não consigo caber.

Fora dele plagiei horizontes e forjei a compreensão para aqueles que jamais foram entendidos.

No espaço, todas as convicções flutuavam minúsculas, então vivi fora do tempo - turva, não-linear, sem idade e sem arrependimentos.

"A minha voz jazia costurada nas entranhas da minha alma e de mim nem um som podia ser emitido ao mundo.

Minha expressão engendrava-se num silêncio poético embalsamado em literatura

E na garganta do abismo perdi-me nos espaços que engoli ansiando me encontrar - mas nada me falava, nada me saia.

De vez em quando subia-me o hálito de quem fui em forma de epifania, mas em um rastro rouco logo se esmaecia."

- Letícia Sales

Perfil literário: @hecate533

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 07/04/2024
Código do texto: T8036963
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.