Embarques de adeus

É curioso como sempre acabo me encontrando aqui.

Observando o porto, as orlas, o mar.

Com uma nostalgia e imensidão que não cabem em mim.

Como se meu coração fosse explodir e ir de encontro às águas.

Já observei tantas partidas.

De alguma forma, para me poupar da dor de mais uma, eu adianto as coisas e levo pessoalmente cada pessoa que passa pela minha vida rumo ao embarque e aceno um adeus.

Muitas vezes elas nem entendem o que está acontecendo, mas seguem viagem mesmo assim.

Me acostumei a me despedir.

Me acostumei a dizer adeus.

Me acostumei a visitar meu amigo mar e juntar minhas lágrimas a ele, e a vê-los levarem embora pedacinhos preciosos do meu coração.

Eu sei que sou eu mesma que compro o bilhete de passagem que leva a todos para longe de mim.

Eu sei que sou eu mesma que faço as malas, que abraça e diz adeus.

Eu me acostumei a me despedir.

Eu me acostumei a dizer adeus.

Eu me acostumei a evitar a dor.

Eu me acostumei a evitar.

Eu me acostumei.

Ainda assim a dor está aqui.

Meu amigo mar, somos só nós dois agora.

É final de tarde.

Te contemplo, e contemplo o tracejar da embarcação sobre ti,

E contemplo os pequenos pedaços do meu coração indo embora numa viagem de adeus paga por mim mesma.

"Ao meu amor: obrigada, e me desculpe o transtorno e o turbilhão.

Eu te amo."

(Gênnifer Gonçalves)

Gênnifer Gonçalves
Enviado por Gênnifer Gonçalves em 01/05/2024
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