Da necessidade do silêncio

Enfraquecido por um amor abstraído do seu objeto, não disse nada. Seguiu no seu absoluto silêncio. Caminhou sem rumo. Andar sem destino, lhe parecia, àquele momento, o melhor possível.

Assim seguiu noite adentro. Amanhecido o dia, e pensando no que acontecera, de si pra si, como uma espécie de conflito gratuito, buscava, na independência de seu espírito, respostas.

A busca por respostas perdurou por uma semana, todavia, conforme o tempo passava, na mesma medida, também passava o interesse em querer entender o fato. Chegará o dia que tudo serão só lembranças, agradáveis ou tristes, não importam, mas só lembranças; pensava no silêncio de seu espírito.

Por razões que ignorava, era habitual se afastar de pessoas ou circunstâncias que lhe trouxessem algum desconforto ou aborrecimento. Não era um sujeito misantropo, isso não, ao contrário, sentia prazer em estar com as pessoas, gostava das multidões. Certa vez chegou a dizer " a multidão é meu oxigênio", os colegas riram e brindaram, como sempre faziam quando algo de novo "quebrava" a monotonia do encontro.

Ocorreu algo inesperado: estava no sofá de sua casa quando alguém bateu à porta. Olhou para o relógio. Era tarde da noite. Não estava no aguardo de ninguém. Relutou. Abrir ou não, duas questões, apenas uma resposta.

Duas semanas se passaram. O sujeito não foi visto. Amigos, preocupados, passaram a sondar o que poderia ter acontecido. Ninguém teve o famoso "calafrio" quando algo assustador parece ter acontecido, isso não.

Tudo se acalmou quando souberam que o sujeito resolveu se recolher. Precisa de solidão, disse um dos amigos mais próximos. Precisa de solidão, completaram os outros. Ele é um ser que precisa de seus momentos, precisa estar só, no silêncio de seu espírito, resumiu um terceiro.