Vivo

As vezes me prendo dentro de uma gaiola que construí.

As vezes me perco na escuridão do abismo que fiz questão de cair.

As vezes esqueço de levar meus próprios ossos para passear.

As vezes deixo o tempo de vida escorrer e faltar o ar.

Em dias cinzas me prendo, me perco, me esqueço, deixo o tempo...falta o ar.

Como me liberto? Como me encontro? Do que preciso recordar? Para onde destinar o tempo?

É preciso respirar.

Mergulho agora no mar de dentro e me lembro.

Vejo, escuto, percebo...

A gaiola está quebrada há muito tempo - e aberta - mas antes mesmo, a chave estava em minhas mãos.

Conheço tão bem esse abismo que é impossível me perder nele, só posso fingir que me perco - para continuar a trilhar nos conhecidos círculos que me trazem a ilusão de segurança.

Meus ossos me carregam por décadas e talvez estejam mais despertos que minha própria consciência no atual momento, talvez caminhe mais se deixá-los me levar.

Há um tempo que já foi, o que farei com o que há e está?

Em dias que respiro, vivo.

Mais do que recordar, isso que está vivo me pede para celebrar.

Sinto muito,

Por todas essas vezes e por descolorir a vida que me deu aqui.

Agora respiro e me reconecto a você,

minha mãe, Terra.