Final de festa

Na quarta-feira de cinzas ela chegou esvoaçante e linda, cantarolando: "Não estou nem aí". O elevador estava no quinto andar. Apertou o botão com cuidado e seguiu os andares com os olhos de águia até chegar no térreo, onde estava calma e feliz. Subiu sozinha, sem se preocupar com as pessoas que estavam por perto. O guardião, idoso, estava na berlinda. Ele seguiu os seus passos, mas não disse uma palavra sequer. Estava sentado no banco onde marcava seu ponto todos os dias, esperando que ela aparecesse na janela, olhava para o alto com uma luz nos olhos. Até que percebeu um movimento na cortina, quando não acreditava mais em um milagre. Viu que ela o olhava de longe pela fresta aberta. Ele ficou encantado, virou de costas para o prédio, limpou o chão com as mãos, no que foi possível e, com um cavaco que encontrou, escreveu: "OMA ET".