TOQUES DE AMOR
Era um morno fim de tarde. O sol recolhia os últimos raios
de sua grade luminescente. O dia, transcorrera próprio de
uma cidade interiorana e plácido de acontecimentos.
Sentado na praça principal da cidade, o casal de namorados
adotava ao que parecia ser, o diálogo do silêncio. Ele,
tocava os cabelos da amada com sublime ternura e vibrante
prazer enquanto ela o acariciava na face, nos olhos, numa
cumplicidade shakspereana de causar inveja à qualquer
Romeu/Julieta contemporâneo. Cena e cenário admiráveis.
Apesar de intenso movimento no entorno, eles agiam como se
isolados estivessem e, assim laboravam a comunicação interativa; dinâmica, operosa e desconexa do verbo. A algazarra de pardais e colibris, em seus chilreios parecia aplaudir a fusão de dois corações recém-descobertos.
A atmosfera sensual, originária de beijos, de abraços, carícias e toques "proibidos", registrava o alto grau de
adrenalina, exibido. Tal estado de idílio só foi quebrado pela intrusa chuva que interrompeu a cena dos jovens amantes, embriagados pelo cupido. De imediato, subiram ao coreto, sob estridentes risos pelo inusitado do tempo. Instantes depois a chuva passou, o riso cessou, só o amor
silencioso permaneceu na interação física das expressões
faciais, na linguagem visual sem gestos ou códigos explícitos.
Os poetas classificam esses amantes como aborígenes da
Amazônia nascente, os quais em incontrolados impulsos ,
abrem clareiras, provocam queimadas, porém, sem danos ao
sentimento. Eles se banham na foz dotempo. Se projetam
nas nuvens de Vênus, onde fixam residência, dispensando mobiliário, alimentação, pois nutrem-se mútuamente configurando no sexo, a tela impar e geométrica de côncavo e convexo.