tons do de dentro

Eu via a luz dentro, e era o vermelho querendo explodir no escuro, a coisa mole brilhando, o escuro avermelhado, nunca entendo esses vermelhos do céu, do crepúsculo. O sol atrás do muro, sempre atrás do muro alto. Ou se afogando no mar, fica arroxeado, lilás o céu, lá no mar, quase sem ar.

Foi o corte que fiz, quando segurei bem firme, um talho só, e ri antes da faca descer à carne funda, não há como suturar esses sulcos, essas feridas de viver, o vermelho que pulsa, cursa o escuro rio que corre no fundo. Uns azuis se desfazendo, se abrindo espaçoso para compreender o não compreendido e incomunicável.

Estendo o pescoço para ver e vem...vem a borboleta errática troçando as paredes de um abismo, ismo, ismo. Grito e o eco dentro, sobe, sobe como um vapor gélido na minha face de abismo. A borboleta voa para dentro dos meus olhos e olha, é arco-íris íris ri.

Então rio, rio-me, um rio que corre em direção ao fundo , é que pesa-me o fardo de existir, sou cúmplice dessa vida estranha, desse estar no mundo, de ser e ir me desfiando nas teias, como a mosca que frágil é enrolada no fio tênue e com a força de um metal da aranha negra, e aguarda a hora da última ceia.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 12/01/2008
Reeditado em 04/05/2008
Código do texto: T814216