A CARTA QUE EU NÃO LI

Era verão. O dia amanhecera como outro qualquer. Acordei cedinho, queria ver o nascer do sol, sentir o silêncio de mais um dia a chegar, mas antes... Quis cobrir você que teimava em empurrar os lençóis durante o sono.

Senti um misto de medo e apreensão... Você não estava deitado ao meu lado, seu lugar na cama ainda estava quente, o lençol dobrado, e no criado-mudo, um envelope com uma carta dentro (creio eu). Ler ou não, esse era o dilema. O que havia nela? Peguei mas larguei em cima da cama e corri pela casa, abri cada cômodo, você não estava em nenhum, fui até a garagem, o carro também não estava... No armário, as roupas permaneciam intactas... Voltei a olhar a carta dobrada... Lá estava a verdade que eu não queria aceitar... Você tinha ido embora, de forma covarde, injusta, sem me dizer nada... Por quê? O que mudara em nossa relação?

Precisava ler a carta... Mas onde encontrar coragem? Orei, falei com Deus, fiz promessas para não encontrar algo como um adeus...

Lembrei do celular... Liguei... Só dava caixa postal. Pirei.

Chorei, lamentei, xinguei, quis arrancar os cabelos...

Caminhava como um zumbi... O que acontecera? Por que nenhuma palavra? Eram sete horas, mais de uma hora depois que eu havia notado a sua ausência... E a carta, como a zombar de mim, permanecia fechada, dentro do envelope branco, na frente, o meu nome escrito.

Deitei na cama, ao lado daquele que me trazia notícias terríveis, e chorei a saudade do meu amor que se fora. Onde eu errara? Não o amava suficiente? E as juras que ele fizera na noite anterior... Mentiras? Precisava ler a carta. Não tinha coragem mesmo, as mãos tremiam, precisava primeiro relaxar, fiz um pouco de yoga, controle de respiração... Mas o coração não obedecia, parecia que estava comprimido, o ar faltava nos pulmões... Resolvi dormir um pouco... As lembranças vinham junto com as lágrimas, aos turbilhões... Adormeci chorando e... Fui acordada com um beijo. Era o meu amado. Pulei em seus braços, ri, gritei, esmurrei seu peito e perguntei o porquê dele ter me abandonado... Como resposta, eu o vi gargalhando e perguntando se eu não lera a carta que deixara no criado, disse que não, estava com medo. Ele pegou o envelope, abriu e ao invés de uma carta havia um bilhete que ele quis ler em voz alta: - “ Querida, ontem a nossa noite foi maravilhosa, por conta disso, sai cedinho para comprar flores para você. Me aguarde, volto antes das oito, te amo”.

P.S. Você dormia como um anjo, não quis acordá-la.

Em tempo: Depois desse ocorrido, guardei a carta com todo carinho, e, nunca mais tirei conclusões precipitadas.

Adi
Enviado por Adi em 15/01/2008
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