Meu coração está cansado....

" Meu coração está cansado" - ela disse. " O meu também" - ele constatou. E essa foi a deixa pra uma enorme retrospectiva. Passavam-se seis longos anos desde a primeira olhadela distorcida. Passavam-se eternidades, acho.

Não se tocavam. Desnudavam-se, com toda a certeza fria dos relacionamentos que se acabam porque não deram certo. Mas ainda se amavam. Com uma sitileza íngreme dos corações montanhosos. Amavam-se com os olhos e as coxas que não mais se entrelaçavam como antes. Mesmo assim, amavam-se.

Ela soube, num gesto desesperado, que ele agora queria distância. O coração arfava, cansado de tantas tentativas frustradas de tornar-se alma gêmea do que não era. Eram opostos. Mas amavam-se. "Mas" - uma palavra contraditória. Um advérbio, um intensificador daqueles anos pra ela tão terríveis; tão cheios de conjecturas e desistências. E insistências. Agora teria que se acostumar com seu coração silenciado.

A menina sentiu que o coração se cansava das dores, e sobretudo das explicações não dadas. Dos silêncios, dos sumiços, do seu sentimento de solidão, mesmo lado a lado. O coração se cansava de, vivo, ser tratado como coisa. Como um pedaço de vida dentro de um peito largado.

Olharam-se longamente, como se aquilo desvendasse todos os silêncios apagados por tantos anos. Ou revividos naquelas páginas amareladas pelos sorrisos velados e pelo tempo? vai saber... Olharam-se... Como pessoas que se amam num nevoeiro, numa chuva torrecial de sentimentos e lutas consigo mesmos. Lutas homéricas...

Os olhos fitaram rostos velhos e encharcados de previsões que diante do tempo se tornaram verdades. As conquistas pessoais, cresceram, pensei. Mas foi só por um minúsculo instante. Homem, mulher. Sempre ela tão disposta a pedir desculpas, a pedir pra voltar, a dizer que o coração....

O coração cansou. E não havia mais nada que contornasse aqueles olhos repletos de lágrimas. Melhor mesmo desacreditá-los. Melhor mesmo um abraço, como o pirmeiro de tantos naqueles seis anos... Sete, agora, já veio o novo ano.. Novas conquistas. "Cada dia uma nova conquista, lembra?"(...) Seguiu sem saber. Também, nõa importava.`àquela altura.. importava mesmo era sanar aquela dor latejante e insegura que lhe acompanharia pelo resto da vida. Sem ele. Ou por causa dele...