Delírios

 

 

 

 

Limpando velhas gavetas emperradas pelo tempo resgatei tesouros esquecidos de minha imaginação, reflexões de minha razão e expressões de meus sentimentos.Textos e mais textos, alguns precisando de um especialista para serem lidos. Escritos a lápis, memórias quase perdidas, sombras para os olhos cansados. Por que abri mão de viver do que mais sei fazer para tentar outras profissões nas quais certamente não fui tão feliz?

 

Será o homem realmente dotado de livre-arbítrio? Penso que para exercer esta prerrogativa é necessário antes de tudo ter um profundo conhecimento de si próprio, para que qualquer escolha seja realmente uma escolha e não fruto de pressões sociais e familiares. Em busca de caminhos perdi o caminho real, aquele que me levaria a realização plena e total? Ou seria a vida um baralho de cartas marcadas e a única coisa a fazer é aprender a jogar para não ser sordidamente derrotado?

 

Pensando no ontem e nos caminhos que escolhi sei que fiz bom uso deles, mas fazer bom uso não é fazer o melhor que se pode. Eu podia ter feito mais. Sempre me inquietou a parábola dos talentos e hoje sinto que sou aquela serva que não cuidou bem dos talentos que lhe foram confiados. Sinto-me como aquele investidor que recebeu um capital para especular e cuidou tão bem dele que com medo de perdê-lo enterrou-o no quintal.Enquanto isso seus colegas de trabalho que receberam bem menos, ousaram duplicar ou triplicar o que tinham recebido porque, confiantes, não tinham medo de perder.

 

Neste momento de inquietação eu preciso da certeza  da eternidade para que possa recomeçar como se hoje fosse o primeiro dia do resto de minha vida.

 

Se a eternidade for o palco onde desenrola minha vida poderei buscar forças dentro de mim para atingir o ápice a que tenho direito.Mas se for convencida da perenidade de meus sonhos nada terá valido a pena e nada mais será importante.

 

Tenho que resolver esta dualidade imediatamente dentro de mim para que não me perca no vórtice do materialismo.

 

Ah, se conseguir o dom de ver além do que pode ser visto, moldarei meu destino de tal forma que do que já foi perdido construirei a vitória. É preciso ter certeza de que Deus existe e de que há uma missão, que mesmo tendo  sido temporariamente abandonada pode ser retomada. É preciso confiar que o tempo não existe a não ser  como um calendário na parede retratando a diversidade das estações. Afinal depois do inverno sempre vem a primavera com os ipês coloridos ladeando os caminhos.

 

É preciso saber que existem fases, mas que essas estão dispostas em uma perfeita circunferência, alternando-se cada uma com sua beleza própria.

 

É preciso querer fazer de cada dia um dia repleto de poesia, ouvindo a trilha sonora  das aves nos campos.

 

É preciso rasgar as máscaras  e  deixá-las na beira da estrada recuperando o eu verdadeiro que se encontra preso no âmago de cada um de nós.  

 

 

(Lavras, 18 de janeiro de 2008)