Menina Cabocla

Menina cabocla

Eu sinto-me acocorada em um rabo de fogão

a lenha.

As labaredas estalando, em cores de tons alaranjados.

A lenha queimando e deixando os restos

das cinzas amontoados.

Panelas pretas de carvão exalando o cheiro gostoso da comida

roceira. No forno o pão de queijo e a broa de fubá

assando e eu menina criança, mulher de olhar

triste, profundo, faceiro.

E eu menina esperança de encontrar

no estalar do fogo o aquecer de minh’alma

solitária, envergada, gélida.

Cubro as pernas finas e esbranquiçadas

com meu vestido de chita, os pés descalços

se ajeitam num espaço tão pequeno.

Eu menina cabocla, que tão poucas vezes

sorri, morando em um casebre com telhas

que na tempestade o vento sucumbi.

Não sei o que é luxo, mas sei sonhar...

quando pego a lata pra buscar

água no poço pra lavar a casa e meus irmãos se banhar.

A cabeça dá voltas pelo mundo de riqueza, casarões,

homens distintos a me rodear.

Eu sou assim: sou menina, sou criança,

sou mulher, sou esperança, sou cabocla,

imagem refletida nas poças da simplicidade

onde se traduz sonhos foscos de felicidade.

Minnie Sevla

Minnie Sevla
Enviado por Minnie Sevla em 27/01/2008
Código do texto: T835620
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