o corpo

Estava lá o corpo  inerte estendido no asfalto
a perícia  fotografava o fato
Em meio a  flashes  de cor prata
a multidão curiosa se aglomerava em volta 
O rabecão retirava o corpo
Uma pá de cal era jogada no asfalto para apagar os vestígios de sangue 
Passava eu  ali em  minha via cruxis a lamentar-me
Quando me deparei com tal paragem
Não tinha como ignorar aquela  realidadeque se apresentava  e o pavor que em mim aquela cena evocava
pensava:  agora ele  amanhã serei  eu 
Interrompi por um segundo meus lamentos e  crises existenciais
Vislumbrei a morte que chega a qualquer momento
e que não diz ao que veio 
arrancando-nos do tempo amiúde
De súbito nos carrega e o  que nos resta é o ataúde
pensei  nas recomendações dadas  por um surrealista
que seu feretro  fosse transportado num caminhão de mudança
e que dele não se falesse  muito;
E que os  poucos amigos quando soubessem  da notícia não a publicassem em nenhum necrológico  
nem lembrassem com desdém nem algazarra 
nem mesmo rezassem  a sua  memória
e nem colocassem na  lápide aqui jaz um homem
porque homem nem sequer chegou a ser
apenas um projeto inacabado de pessoa
um ser, um ente,  que não se  afeiçoa
aquele corpo inerte e enrijecido
me  fez vir a memómoria todas essas ilações
e um sentimento sombrio e de pesar
pois quando morre um homem
é como se toda a humanidade morresse
Labareda
Enviado por Labareda em 01/02/2008
Reeditado em 21/10/2020
Código do texto: T841556
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