Arfã (A Fã)

O que há no espaço entrecortante do instante do que será dito e do lampejar de lábios?

Há uma clarividência muda. Uma evidência surda. Há tanta coisa.

É um instante solene: vem aquele suspiro, semi-pausado, e o ar é expelido em onda sonora.

Tantas, mas tantas e tantas vezes eu arfei esse ar.

Arfei o ar infantil daquele sorriso, o ar gentil daquele protótipo de idoso.

Cheios de hipocrisias e manuais femininos.

Arfei e suportei tanta coisa que soa até irônico.

Arfei, principalmente, o ar do teu gôzo.

O pênis pequeno, o dedo teimoso.

Pra quê? Para ouvir um te amo bondoso.

Esquecido logo depois da ejaculação: precoce.

Rio. E agora? Com a calcinha na mão, jogada no chão.

Miro a parede e há tanta fumaça. Tudo é cômico.

Continuo arfando. Arfo a solidão do que fumo.

Achando graça por ter esquecido o que me é tão óbvio.

Continuo tendo dedos e gozando. Bobo.

O que há no espaço entrecortante?

Não sei, só sei que deve ser gostoso.