O QUE TE PROPONHO

Proponho-te que hoje, melhor, agora, embales o que tens em ti

de mais simples, tua alma,(porque não és nada se ninguém olhar pra ti; pensas que és.)

Estás repleta de ti, mas é dessuetude e desgosto e mágoa; és mais triste do que és e foste.

Não te preocupes com o tempo, não é tarde nem cedo.

Que sono sem sonhos espera o teu cansaço, os teus olhos, o teu silêncio, o teu coração?

Em que finais escuridões, do outro lado da treva, fundirás, um dia,

a tua ansiedade de viver?

Que braços te ampararão, quando resvalares do abismo, levando de roldão presente, passado e futuro?

Quantos beijos ou passos ou minutos restarão entre ti os teus ponteiros?

Faço-te uma proposta: Vem e me abraça; teus braços longos foram feitos para abraçar. Deixa ao menos meia gota de lágrima pingue na minha camisa.

Ausenta-te deste vácuo, quase vazio de não-sei-quê; vais sentir que a felicidade é um jogo equívoco de esfarrapadas aparências.

Mas precisas ir. Vai e leva teus pés a nenhum caminho de incerta hora de incertos minutos, tudo igual ao que sempre foi.

Beija bocas ácidas, houve teu nome por vozes ásperas. Deixa uma chave súbita abrir teu quarto.

Quando o domingo for novamente jovem e a cortina do crepúsculo se abrir para a última alvorada, vem.

Quero te fazer outra proposta.

Chaplin

Retalhos extraídos da Obra Poética de Renault

Chaplin
Enviado por Chaplin em 06/02/2008
Código do texto: T848801