* * *

Levantei num dia de sol e pus-me na estrada,

com o quatro rodas na mão viajei para o mundo,

para nova terra, novo ar, conhecer nova gente.

um instante somente foi preciso para arrumar

a mala no carro, a coragem já estava no corpo e

no rosto a alegria de seguir...

Assim segui, meio sem rumo, desafiando a estrada,

me escondendo um pouco do sol do dia, com a perna

encolhida, com tantos trecos e coisas.

Não pude olhar para trás, não poderia...

As lágrimas desciam o rosto, não poderia decepcionar,

a mim, a criança que estava no banco de trás.

E restavam vultos somente a cada percurso,

sobras de dúvidas, tudo que um dia conquistei,

pensamentos e segredos, tudo abandonei.

Chegando na terra do nunca, onde nunca cheguei,

me iludi, como na igreja um tempo passado,

não havia flores, nem calço, nem minha platéia.

Conheci pequenos grandes amigos e grandes pequenos

também, comecei a sorrir como antes e novamente caí,

no desespero, os que conheci, eu mesma não me conhecia.

Lágrimas rolam em meu rosto, como um aflito e

não tem o ombro de família, somente meus rascunhos,

minha caneta velha e a criança que estava no banco de trás.

Não há dúvidas, não sou daqui, longe de casa estou,

como uma criança perdida e não consigo voltar,

a esmo, na solitária do tempo, sem amor...

Procuro por mim...Não sei onde estou, na cova com leões,

na cama com o inimigo, em 1940, além da vida, na solitária

dos esquecidos, na minha dor com minha cruz ao lado.

Não durmo, me arrastando um dia, depois outro,

assim vou indo nesta estrada que um dia busquei,

em um belo dia que me levantei, em um mundo que ainda não cheguei.