Amor e cigarros

Quando acendo um cigarro, imagino a personificação do amor. No início ele pega fogo e queima lentamente, uma queimada monótona, sem luz e sem prazer. Então eu trago para sua luz reluzir e seu fogo queimar, e o prazer vem como quem não quer nada, é aquele prazer que vicia e nos faz sofrer com o tempo. No final, o cigarro acaba e o amor também, e então, o que resta? Mais cigarros e mais amores, até que uma hora o sofrimento imperceptível se transforma em dor e a dor nos mata. Matar? Morrer não é apenas uma questão biológica. Também é uma questão filosófica, o cigarro nos mata mesmo, já o amor nos mata por dentro, ele fere nossa alma e destrói o que temos por dentro. A faceta do amor é nos deixar no vazio interior para nos ajoelharmos a seus pés pedindo clemência. Por isso, fuja do amor, evite o amor. O amor, assim como o cigarro, sempre acaba; e se você procurar sempre mais amor, um dia irá morrer. O bom amor é igual ao último cigarro: quando ele acabar, você sempre irá lembrar. E esse amor já não estará fora de você e sim dentro de você, em pensamento, em lembranças.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 29/02/2008
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