Das Flores

Amanheceu quando já era tarde para amanhecer, mas quem pode questionar o amanhecer ou o nascer do sol? Vestiu-se com terno de linho remendado a mão, tinha a maleta de baixo do braço e o jornal no portão. Despediu-se com ar sereno da velha mãe, com grande estilo pegou o ônibus para a Avenida Central, lá sentou-se no banco do bar, tomou seu café, leu os noticiários, amassou dois cigarros e partiu em direção ao trabalho.

Era um pouco tarde, e é claro o atraso fazia parte da sua vida, atrasou-se para nascer, para crescer, pensar, descobrir o amor. Atrasou-se não tão diferente para andar, falar, escrever, desenhar, namorar... Porém quem pode questionar?

Com seu elegante jeito de ser, deu bom dia à recepcionista, caminhou para sua sala, não um chique escritório, apenas sua sala. Ordenou os papéis, telefonou para clientes, desmarcou entregas, cancelou ofertas e ainda assim permaneceu a sorrir, pois sempre trajou-se de bom humor. Sorria quando não havia motivos para sorrir, afinal sempre teve muita alegria, tudo podia está dando errado, que mesmo assim, um sorriso estampava-se em seu rosto.

Verdade ou mentira não se sabe, o que se ouvia falar era de seu nome, chamava-se José, o homem do terno de linho azul marinho, que passava todos os dias pela rua oito. E que rua é esta? Isto também não se sabe, todavia de uma sacada muito bonita uma moça gentil de inigualável apreço o admirava. Seu nome era Maria da Flores, isto porque no jardim de sua casa não havia flor mais linda que Maria. E não é que um dia estes dois esbarraram-se e trocaram pequenas palavras ou melhor pequeníssimas, foi só um "desculpa" e " não tem problema". Tudo continou em seu devido lugar para José, pois ele em meio aos atrasoss não se dava conta do que acontecia, mas para Maria o esbarrão permitiu que ela reconhecesse o perfume de José e por coincidência era feito de jasmins.É isso mesmo, o perfume daquelas jasmins plantadas no canteiro de sua sacada. " Agora falta pouco para descobrir seu nome, namorarmos, noivarmos e por fim casarmos", pensava Das Flores. O que ela não sabia era que Zé nunca tinha pensado em apaixonar-se por alguém.

Passou-se algumas semanas e quem diria, não é que José descobriu o amor! De uma forma bem engraçada, ah quem pode questionar? Quando caminhava em frente a casa de Maria percebeu o perfume de jasmim disperso e dançando no ar, sentiu um aperto no coração e só naquele único momento, naquele instante enibriante, notou que faltava algo em sua vida. Olhou surpreso para o jardim, como se alguma força o impulsiona-se para tal ação, e ao fitar Maria, pensou que nenhuma daquelas rosas,violetas,margaridas e jasmins fossem tão apaixonantes como Das Flores.

Carolina Oliveira da Silva
Enviado por Carolina Oliveira da Silva em 29/02/2008
Reeditado em 29/02/2008
Código do texto: T881682