Chuva de medos

O medo chegou e acomodou-se

As portas fecharam-se por obsessão

As bocas secaram-se no silêncio angustiante

Onde só a metralha manda.

A chuva cai em bátegas fortes

Quebrando a mudez dos vivos

Mas, a porta arrombada bate chalaceando…

Arrefecendo a humanidade….

Já não há o que chorar!

Esvaem-se os soluços em surdina

Ao compasso da chuva invasora

E os cães de quando em quando

Soltam uivos de saudade!.

Por aquele que levaram

Aquele, cujo nome nem recordam

Mas sabem, como sabem...

Amanhã a chuva lembrará ainda e sempre

O som das balas em ricochete

Descendo o morro das angústias

O odioso som que dia após dia

Desanca aquela porta aberta,

Obcecada de protecção e ao que faz chão!

E o povo sabe de cor a melodia

quando ela chega ao fim de cada dia.

Pensam de olhos esbugalhados

- É o caminho dos fuzilados...

E ninguém sabe dele,

Daquele que levaram...

Não sabem? Sabem!