Prestação de contas
Nem parecia que ia chover. Mas dentro da cozinha caía um temporal de frases distoantes do contexto ao qual a situação sugeria.
Ela ria de si mesma e da conta à pagar, ambas tão ridículas e urgentes que até o gato da vizinha as ignorava com seu rabo torto no pirex de leite.
O relógio tiquetaqueando baixinho lembrava as noites de insônia que a ele, no fim de cada mês, frequentemente o assaltavam.
A conta ali, pálida, escrita toda ela de números e os dois, homem e mulher, coloridos, brancos de letras já não escreviam mais cartas de amor.